EDITORIAL | A infância em risco: os perigos ocultos da internet

EDITORIAL | A infância em risco: os perigos ocultos da internet

EDITORIAL | A infância em risco: os perigos ocultos da internet

Na era digital, onde a conectividade permeia todos os aspectos da vida cotidiana, pais e responsáveis enfrentam um desafio cada vez mais urgente: proteger crianças e adolescentes em um ambiente virtual onde os limites entre entretenimento, exposição e exploração estão perigosamente borrados. O recente vídeo publicado pelo influenciador Felca, intitulado "Adultização", trouxe à tona, de forma contundente, uma realidade que muitos preferem ignorar: a crescente presença de conteúdos que sexualizam e exploram menores de idade nas redes sociais.

Com mais de 50 minutos de duração, o material não se restringe à crítica superficial. Ele apresenta evidências — imagens, perfis, vídeos e dados — que revelam como o algoritmo das plataformas digitais não apenas tolera, mas impulsiona conteúdos que colocam a infância em risco. Em poucas horas, o vídeo viralizou, e, em poucos dias, o impacto foi mensurável: segundo a ONG SaferNet, as denúncias relacionadas à exposição indevida de crianças na internet aumentaram em 114%.

Mais do que um alerta, trata-se de um divisor de águas. Pela primeira vez em larga escala, milhões de brasileiros foram confrontados com a banalização da hipersexualização infantil online — muitas vezes promovida pelos próprios responsáveis legais das crianças, em busca de visibilidade, seguidores e monetização.


Exposição digital: quando o afeto cede lugar à audiência

A prática conhecida como sharenting — a superexposição de filhos nas redes sociais — vem se tornando cada vez mais comum. O que começa como uma forma de partilhar momentos familiares pode rapidamente evoluir para conteúdos que, ainda que aparentemente inofensivos, abrem margem para interpretações e usos indevidos por terceiros. Fotografias de crianças em roupas íntimas, vídeos em situações constrangedoras ou sensualizadas, danças coreografadas com gestos adultos — tudo isso, muitas vezes postado sem qualquer malícia pelos pais, acaba sendo explorado por redes de abuso e pedofilia.

Esse fenômeno não ocorre à margem da sociedade. Ele é amplamente incentivado por sistemas de recomendação que priorizam o engajamento — e pouco ou nada consideram os impactos psicológicos, sociais e jurídicos sobre os menores expostos. As plataformas digitais, por sua vez, seguem agindo com morosidade e ambiguidade, falhando sistematicamente em aplicar medidas eficazes de moderação e prevenção.


Infância não é conteúdo. Infância é direito.

Especialistas em desenvolvimento infantil alertam: a exposição precoce à adultização pode provocar consequências profundas e duradouras. A sexualidade infantil, quando estimulada fora do tempo, compromete a formação da identidade, afeta a autoestima e prejudica a capacidade de desenvolver relações saudáveis na vida adulta. Mais do que danos psicológicos, estamos diante de uma grave violação de direitos.

Felca, ao reunir provas e levantar um debate nacional, prestou um serviço público. Sua denúncia provocou reações institucionais: perfis foram derrubados, investigações foram abertas, um influenciador chegou a ser preso, e o Congresso Nacional passou a discutir com mais seriedade a regulamentação de conteúdo envolvendo menores na internet. Mas isso é apenas o começo.


O papel dos pais: vigilância, limites e responsabilidade

A internet é, hoje, um território sem cercas. E como em qualquer ambiente desprotegido, quem mais sofre são os mais vulneráveis. A responsabilidade da proteção digital das crianças não pode ser delegada às plataformas, tampouco ao Estado. Ela começa em casa — com orientação, supervisão e, sobretudo, com a consciência de que o amor pelos filhos também se expressa nos limites que lhes são impostos.

Pais e responsáveis devem refletir profundamente:

  • Que tipo de exposição seus filhos estão tendo online?

  • Quem está acessando essas imagens?

  • Por que é tão difícil dizer "não" ao apelo da visibilidade?

É preciso reavaliar o uso que se faz da tecnologia no ambiente familiar. Aplicativos de controle parental são importantes, mas insuficientes. O diálogo constante, o acompanhamento das atividades digitais e a decisão consciente de não transformar a vida dos filhos em entretenimento público são ações fundamentais.


Conclusão: uma chamada à ação coletiva

O caso exposto por Felca é apenas a superfície de um problema muito maior. A transformação da infância em produto digital, a sexualização precoce, e a passividade com que a sociedade lida com esses fatos exigem uma resposta firme, ética e urgente. Proteger crianças na internet não é censura — é responsabilidade. E essa responsabilidade é de todos: pais, educadores, legisladores, empresas de tecnologia e da própria sociedade civil.

A infância não é palco. Não é audiência. Não é moeda de troca para cliques e curtidas. A infância é sagrada — e precisa ser preservada com o mesmo vigor com que defendemos os nossos próprios direitos. Se o ambiente digital se tornou uma selva, então cabe a nós construir, com urgência, os mecanismos que transformem essa selva em um espaço seguro, saudável e respeitoso para quem mais precisa de proteção.


Foto Divulgação / Metrópole

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